Era quase meia-noite e eu estava na rua com um ingresso na mão e procurando mais um pra um amigo que me acompanhava. Estava chovendo e o preço dos ingressos estava caindo, passamos uns 15 minutos negociando e conseguimos fazer um bom negócio com os cambistas gentis que trocaram meu ingresso e mais vinte e seis reais por dois ingressos de camarote, que seriam muito úteis mais tarde. Sábado era o último dia de festival, dia 16 de agosto, e era também meu aniversário. Eu nunca costumei comemorar aniversário em lugares públicos com muitas pessoas, mas como já era quase meia-noite, não fiquei preocupado com isso. Entramos eu e o amigo anônimo que me acompanhava e até tentamos chegar perto do palco, mas a chuva apertava e entramos no útil camarote. Compramos uma cerveja e ficamos observando meio de longe a tradicional macumba animada do Cordel do Fogo Encantado. O público se animava com a chuva e pedia mais, mais - o público de Natal é receptivo e simpático.
À essa altura do dia eu já havia bebido mais de uma dezena de latas de cerveja e já tinha os pés meio dormentes, a chuva não me incomodava e a área vip (camarote) estava cheio de pessoas que eu não costumo ver nos festivais de música que freqüento. Algo do tipo ‘whisky com muito red bull e mulheres loiras de bunda grande em roupas pequenas’. Achei que estava no lugar errado, mas pelo menos ali não chovia. O show do Cordel acabou e ficamos na expectativa do início de Seu Jorge. Como de costume em todos os dias de festival, a produção soltou uns picotados de plástico prateados pelo ar e soltou fogos que, claro, só fizeram barulho embaixo da chuva. Fiquei pensando pra onde iam tantos pedaços de plástico que voaram pelo ar e pararam nas areias da praia. Espero que eles sejam biodegradáveis.
O show do Jorge tem vários climas diferentes e o público parecia envolvido com a coisa. Com o tempo, fui ficando mais disperso, observando as pessoas à minha volta e tentei ir ao banheiro. Tive que arrumar uma alternativa terceiro-mundista e fugir do banheiro químico, que sempre estava lotado e demorava muito, muito.
As pessoas se aglomeravam mais por conta da chuva e uma mulher com olhar de psicótica passou por nós e perguntou o que estávamos pensando. Essas coisas acontecem, pode acreditar. Fiquei jogando conversa fora com essa maluca por um tempo até que percebi que estava sozinho. Meu amigo havia ido embora e meus outros amigos que estavam no festival também já tinham desistido da noite. Eu continuei lá e vi, de longe, uns pedaços da performance de Montage, sempre divertida.
Um dia antes, sexta, dia 15, assití ao show de Lobão. Aquilo me transportou à minha infância em Natal. (Nasci lá e me mudei pra Recife aos 7 anos de idade). Lembrei que Lobão sempre era preso e eu via isso pela tv. Lobão era como um símbolo da loucura e da transgressão. Todo mundo lá em casa odeia ele. Mas eu gostei de vê-lo e ouvi-lo pela primeira vez na minha vida. O som estava mais audível do que o d’O Rappa, no dia anterior.
Na quinta, dia 14, abertura do festival, cheguei mais cedo, coisa não comum no Mada. A maioria das pessoas chega bem tarde e prefere ver somente o show das grandes atrações. Só não sei exatamente porque as grandes atrações tem que tocar somente no final da noite. Afinal de contas, as pequenas atrações também podem provocar prazer e satisfação ao público!
Não assisti ao show dos conterrâneos da Amps & Lina, mas perguntei pra eles como havia sido e eles haviam gostado do que tocaram. Vi todos os outros shows da noite. Já que neste dia eu ainda estava sozinho, sem meus companheiros Lumanos de Recife, a maior atração era, de fato, o palco.
Na seqüência da minha memória, lembro de Sweet Fanny Adams e de uma banda de reggae natalense bem estilosa e competente, Rastafeeling - o cantor levava à sério o estilo Bob Marley. Depois ainda entrou uma turma da pesada do Band New Hate e o Rappa fechou a noite com o som bem alto, bem alto mesmo. Há trinta metros do palco eu não escutava minha própria voz.
Nos dias posteriores do festival, sexta e sábado, ainda tentei chegar mais cedo, mas como eu ainda não sabia que eu faria a cobertura do Mada para você, nosso querido leitor, e como, também, minha viagem pra Natal era mais familiar do que de negócios, segui as maneiras locais e cheguei perto da meia-noite. Devo ter perdido alguma coisa.
Agora, vendo a programação no site ainda lembro do bom show de Josh Rouse e de bons comentários sobre o Curumim. Depois procurem no myspace. Dentro do quesito ‘atrações do Mada’, ainda posso citar uma tenda eletrônica colorida com teto transparente, cerveja de latinha por 2 reais, muito vento, uma feira com alguns objetos curiosos, um estande da uma multinacional em que as pessoas jogavam vídeo game, um visual bonito e um clima agradável para os que não estavam na chuva.
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