texto de Raphael Pinteiro
O primeiro dia de debates do Grito Rock na Livraria Cultura teve como tema "Identidade visual como ferramenta na produção cultural" e trouxe para a mesa o designer gráfico, produtor cultural e professor da Aeso Léo antunes, o designer e videomaker do coletivo TV Primavera Raul Luna, o publicitário e designer gráfico do estúdio Mooz Daniel Edmundson e o arquiteto, designer de montagens e artista plástico Diogo Todé, além da apresentação da banda Ínsula fechando a noite.
Cada debatedor mostrou seu ponto de vista – nem sempre concordantes – e sua experiência no próprio mercado. Iniciando o debate, Léo Antunes criou um paralelo entre o design e o mercado musical independente, levantando a questão de que, em ambos os casos, a questão do compromisso pelo desenvolvimento do mercado, trabalhando sem grana mas com liberdade criativa versus espera por um chamado remunerado e engessado ainda impera.
Complementando o pensamento de Antunes, Raul Luna abordou sua experiência na criação de clipes de baixíssima estrutura, como os trabalhos realizados por ele e seu coletivo para bandas como Mombojó, Parafusa, Superoutro e Mellotrons, todos com orçamentos que não passaram dos R$600. Defendeu também o espírito do Do It Yourself, tão comum aos coletivos: se falta dinheiro, sobra gente querendo fazer e somar. A famosa auto-produção, onde o que prevalece é a boa idéia, exemplificada pelo famoso palco 3 criado pela banda The Playboys.
Um ponto interessante que pareceu uníssono foi a dificuldade – ou impossibilidade atual – de se viver exclusivamente do mercado independente. Daniel Edmundson falou do início do Coquetel Molotov, em que o coletivo trabalhava exclusivamente com a indústria cultural e hoje essa fatia diminuiu consideravelmente. Em suas palavras "A gente tem que ganhar dinheiro, pagar contas...". Edmundson também levantou a questão da chamada prostituição do mercado, onde designers lutam entre si para oferecer o preço mais baixo para o cliente, subvalorizando seu próprio trabalho e degradando sua profissão. Ressaltu que o importante é se mostrar ao cliente/banda o valor de uma boa identidade visual e seu retorno de marca, frizando o quanto é importante mostrar que o design faz parte do produto banda, já que esta não vende apenas música, vende também imagem. A identidade visual começa no estilo da banda, no palco, no repertorio, no DVD, e por isso é fundamental as bandas desenvolverem suas materiais, diversificar seus produtos. Intervindo Edmundson, Luna lança a pergunta que serve como explicação: porque vinil colorido vende mais que o preto? Pode pensar, que vem um monte de respostas junto.
Trazendo um contraponto rico à questão da criação de uma identidade visual própria, Diogo Todé revela o caos e a falta proposital de uma identidade em sua obra – sendo a falta dela também uma forma de identidade. Como forma de ilustrar o trabalho sem grana mas com criatividade, citou seu trabalho para a banda Backing Ballcats Barbies vocals, criando a cenografia com placas condenadas de rua e algumas roubadas mesmo, tudo com muita adesivação e um conceito sexualista, feminino, escrachado e rock n'roll. Sua experiência de dois anos em uma casa abandonada produzindo festas e criando arte com outras pessoas o ajudou no nascimento da mentalidade de baixo custo.
Do saldo final do debate, pode-se ressaltar a necessidade da criação de uma identidade própria, o valor do trabalho coletivo e o prazer de poder ser vanguardista com o mercado independente e o mesmo tempo poder desenvolvê-lo.
Durante todo o debate o auditório da Livraria Cultura esteve com todas as cadeiras ocupadas e ninguém saiu de lá depois do deslumbrante show da banda Ínsula, que fechou o primeiro ciclo de debates com chave de ouro.
Hoje tem mais e o debate promete.
Fotos de Maíra Gamarra e Natuza Ferreira
Vai ter Facción 2017!
Há 7 anos
Um comentário:
Bacaníssimo gurizada!
Esse Grito Rock Porto tá lindo!
Abraços aos lumos.
Marielle Ramires.*
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