Mais um sábado de debates e shows na Torre Malakoff com o Lumo presente, fazendo a cobertura pros nossos leitores queridos dos nossos corações em texto e fotos e, pros ouvintes queridos dos nossos corações, transmissão ao vivo pra rádio do Portal Fora do Eixo. O tema dessa semana foi Turnê Internacional e contou com Melina Hickson (Astronave, Porto Musical e Siba e a Fuloresta) e Fábio Mozine (das bandas Mukeka di Rato, Os Pedrero e Merda) como palestrantes. Em seguida, um rela-bucho profissa no showcase de Santanna, depois mais fungado com Joãozinho do Acordeom e Gabriel Sá.
Fábio Mozine (esq.) e Melina Hickinson compuseram a mesa desse sábado
Na conversa, Melina - que já desenvolve esse trabalho de turnês internacionais há 17 anos, articulando as primeiras turnês de gente do porte de Chico Science e Nação Zumbi e Mestre Ambrósio – citou a abertura da Europa para a música brasileira, principalmente a pernambucana, que, resultado de um trabalho sistêmico de anos, que culminou em 2005 com o ano do Brasil na França. O país, inclusive, foi a base das turnês internacionais de Silvério Pessoa e Lenine. Fato interessante: com essa abertura em 2005, nos anos seguintes houve uma pequena ressaca dos brasucas, o que ocasionou numa maior articulação com outros países, como Alemanha, França, Itália e Portugal. Falando na terra dos gajos, nosso amigo do blog Vai Uma Gasosa está mapeando as casas de shows por lá. “Portugal não tem ressaca de música brasileira, ta muito aberto ao que vem daqui”. Então é bom ficar ligado!
Melina concentra mesmo o papo na Europa. Segundo ela, os Estados Unidos ainda não tem uma facilidade de entrada quanto o velho continente. Em outras palavras, é um povo noiado. Voltando pra onde tem abertura (opa!), Hickson conseguiu armar 5 turnês européias pra Siba e a Fuloresta com apenas dois discos lançados. A tal abertura lá é tão grande que o ex-Mestre Ambrósio e seus operários da Zona da Mata, em alguns lugares, precisavam de segurança pra andar na rua.
Complementando o raciocínio com um parêntese, Fábio Mozine cita casas de shows lotadas em lugares que a Mukeka esperava 5 gatos pingados.
Mas isso, claro, não acontece de uma hora pra outra. Fica então a pergunta: mas como chegar lá? Ao que Melina dá o caminhos das pedras: o melhor começo pra uma banda ou artista solo é tentar participar de convenções internacionais de música, como a Womex (que rola a cada edição em um país da Europa), a SxSW no Texas, a Midem na França e a PopCom na Alemanha. Esses são os lugares ideais pra se descobrir parceiros e agentes e, pra não fazer viagem a toa, você pode filtrar, na hora da inscrição numa dessas feiras, por agentes internacionais e já marcar as reuniões antes de sair do Brasil. Chegando lá, apresente sua banda, mostre seu cd, apresente seus parceiros no Brasil (como o Ministério da Cultura, por exemplo), procure selos parceiros pra distribuir seu disco em lojas e fazer alguma promoção. De volta ao Brasil - só pra contextualizar - toda semana Melina manda e-mail pra essa galera lembrando que ela existe. Fala que geralmente começa no mesmo esquema de investimento da banda e produtores, tudo na tora, tirando do bolso, e depois tudo vai se viabilizando melhor, todo mundo recebendo uma graninha legal em Euro, comendo bem e dormindo num canto decente. É um investimento artístico muito fundamental, porque se amadurece muito em palco, em grupo e em contatos.
Mozine com a palavra, fala a visão do artista nesse cenário. Com suas bandas, já esteve três vezes na Europa, três nos EUA e três no Japão. Por falar em Japão, a Mukeka di Rato está em turnê brasileira com duas bandas de lá. Como, segundo suas palavras, o circuito hardcore apresenta maiores dificuldades pra se obter apoio público às turnês (“Foda conseguir apoio com uma banda chamada Merda”), grande parte das viagens com banda foi bancada pelos músicos, assim como o pessoal do Japão aqui. Eles estão aproveitando suas férias por lá pra turistar e fazer barulho na terra do samba.
Dicas do Mozine:
1 – Aproveite as facilidades geográficas da Europa pra armar uma grande turnê, e se deleite com palcos com estrutura decente, levante uma grana com venda de cd e prdutos (em alguns shows o Mukeka levava pra casa 200 Euros de lucro com isso).
2 – Aprenda algumas palavras e costumes do lugar onde vai tocar. O báscio nunca é demais. Não vá entrar numa casa japonesa de sapatos, por exemplo.
3 - Na Letônia, tiveram problemas com neonazistas, então é bom se ligar porque tem muito neonazista na Europa. Mesmo escondidos, é bom se ligar.
Dicas da Melina:
1 – Estimule o intercâmbio com bandas de fora. Eles podem levar você pra lá, em outras palavras.
2 – Arme sua turnê pela internet.
3 – Comece compondo essa turnê a partir de um evento maior e vá fazendo a circulação a partir desse ponto em outros lugares menores.
4 – Pra diminuir (atenção: diminuir. Todos já passaram perrengues tentando sair do Brasil.) a probabilidade de broncas com imigração, separe grana, passaporte, documentos originais (carteira de motorista, em muitos casos, NÃO serve como carteira de identidade), convite dos festivais, cd da banda (pra dar um presentinho caso alguém encrespe com sua cara).
5 – Viaje de ônibus ou trem por lá.
6 – Dê as caras em feiras internacionais que rolam no Brasil, como a Feira de Música no Ceará e o Porto Musical, que vai rolar aqui em Recife de 17 a 20 de junho.
Findado o papo, Santanna sobe ao palco. Além do forrozão cheio de clássicos, Santanna conversou muito sobre o mestre, rei, Deus Luiz Gonzaga, coincidentemente homenageado num post ali embaixo. Falou também sobre as mulheres e suas curvas, numa poética arrepiadora pras senhouras presentes. Pra encerrar a calhordagem (no bom sentido), mandou um Tamborete de Forró. Tiro certo.
Apresentação de Santana, o cantador
Como já disse que não sou de resenhar, seguem fotos dos agradáveis shows de Joãozinho do Acordeom e Gabriel Sá.
Gabriel Sá
Joãozinho do Acordeon
Abraço e até a próxima semana!
* Todas as fotos por Priscila Buhr.
2 comentários:
Caramba, mas ele não falou dos Squats? Então ele só tocou nos lugares errados na Europa. Para as bandas de hardcore - e afins - é fundamental o livro de Panço sobre as turnês que o Jason fez por lá.
O hardcore não é precário. Pelo contrário. As bandas se organizam nesses prédios que no primeiro andar tem o palco, no segundo dormintórios, depois lojas de discos, espaço para fazer fanzines, etc.
Panço explica bem como funcionam esses squats. Também diz os lugares onde a banda fica com a bilheteria, onde ganha cachê, onde toca pra ninguém. Diz até onde a cerveja é ruim :)
Faz um post sobre os squats Bruno, fiquei curioso.
Postar um comentário