sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Cena independente: só muda o endereço?

Fonte:
http://bhindiemusic.blogspot.com/2009/02/quem-faz-o-publico-das-bandas.html

ONDE ESTÁ O PÚBLICO?


Esta é uma pergunta que, vira e mexe, é jogada nos círculos.
Respostas vagas, suposições embasadas na inércia e a falta da teoria ser aplicada à prática, não calam aos que insistem nela.
Na última quinta, um fato importante nos fez refletir sobre o cenário do público independente.
Com duas bandas de outras cidades no palco, a tendência defendida pelos fazedores da cena, apontavam um resultado prévio preocupante. Dizem as línguas que bandas de fora não têm público. Mito quebrado na última quinta-feira.
Numa doentia corrente de descontentamento generalizado, bandas locais temem por seus shows estarem vazios e não aceitam as agendas propostas pelas organizações. Apostam em dobradinhas com bandas que trazem mais público e, muitas vezes, se acomodam nestas bandas mais populares sem fazerem seu próprio trabalho de divulgação dos shows.
Pior ainda, promovem shows gratuitos em locais que não sinalizam nenhuma possibilidade profissional às bandas e arrastam multidões com o bordão - "é de graça!".
Tocando no assunto Grito Rock 2009, as produções locais optaram pelo voto do público e exigiram este trabalho das bandas participantes. Em troca do status de participarem do maior Festival da América Latina, as bandas tiraram o público, sabe-se lá de onde. Mas o que interessa pra esta nossa filosofia, é que estavam em centenas lá e a pergunta é: onde estavam nos últimos 8 meses? Será que virarão fumaça nos próximos?
Porque estas bandas não trabalham nesta mesma disposição quando queremos construir um cenário sustentável de público para as bandas independentes da cidade? Será que não os importa este trabalho? Será que o que realmente os compete é o encaixe do pedal de bumbo ou a volumação da caixa amplificadora? E que a sorte seja lançada?
É lamentável algumas formas de raciocínio e contra-atividade vistas na cena. Claro que pra não dizer que não falamos só das Flores.
É do interesse de todos os envolvidos na cena independente que o mercado possa pagar, um cachêt mínimo por apresentação de banda? É do nosso interesse que jornalistas vejam bons trabalhos despontando na cidade? É importante que nossos discos sejam vendidos e ouvidos pelo grande público? É gratificante que tenhamos uma casa cheia de pessoas cantando nossas canções quando entramos no refrão?
Então, arregassem as mangas, porque o trabalho é de todo mundo e não de um"produtor".
Afinal, banda independente tem produtor?
As organizações e produções, por mais bem intencionadas que possam ser, dependem do comprometimento de todos os envolvidos, quando a cadeia é muito maior do que, até os mais escolados no mercado, possam vir a imaginar.
As bandas, melhor esclarecendo, alguns integrantes de algumas bandas, são assíduos, isso não podemos discutir. Alguns chegam a acompanhar até 80% das agendas como fazem os públicos do FID, FIT, Festival de Cinema de Tiradentes, Festival Independente de Cinema, FIQ, FAN e até, Comida di Buteco.
Nas platéias dos FID e FIT, 95% do público nunca tiveram a pretensão de subir num palco. São público, passivos, consumidores de arte e cultura.
Ver uma formação de banda completa (vocalista, guitarrista e back vocal, baixista, tecladista, flautista e baterista) tomando junta uma cervejinha no Matriz e vendo a banda dos colegas se apresentando na noite, é no mínimo um sonho surrealista. E pra que insistir?

Não veremos o Grupo Corpo e seus 30 bailarinos num mesmo espetáculo do FID. A formação completa do Galpão na platéia do FIT. Perdemos tempo num raciocínio errado de trabalho de divulgação e promoção da cena de música local enquanto não despertamos nos exemplos e digo até, erros e acertos, vistos em eventos semelhantes.
Ao invés de tentarmos arrastar, em vão, a banda completa pra cena, convidamos um primo ou vizinho, colega de faculdade, amigo de infância aos shows das mais de 70 bandas (vide coluna ao lado), dentre algumas, inéditas em BH. Com tanta diversidade musical e artística é impossível não conhecermos alguém, nesta cidade, que possa assistir a um show que lhe agrade.
Devemos repensar uma proposta de construção e formação de público.
Se os colegas de banda não foram até hoje nos shows de bandas independentes, não é este o público que o mercado espera formar. O público para esse novo mercado não será "arrastado" aos shows, mas apresentado à cena musical.
Hoje nossa cena alternativa, underground, independente, mais que nunca, tem vida, movimentação e muita criatividade. Só não vê quem não quer.

E por mais que a paralisia de alguns músicos para com este tema, seja tão séria a ponto desta discussão aqui ser levantada, o trabalho de outros poucos é contínuo e exaustivo, que acabará por trazer à tona a diferença entre a auto-promoção e a necessária gestão do mercado novo de música em MG.

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